quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A revolução das consciências


(Charge: Clayton/O Povo)

Por Artur Pires

O que fazer quando todas as factualidades levam ao completo desacreditar na política brasileira? O que fazer quando “políticos” sem nenhum estofo ético, suspeitos de corrupção, são “eleitos”, em nome do rodízio entre partidos com maioria de cadeiras, para presidir casas legislativas federais?

O que fazer quando o Congresso e o Executivo Nacional, os ministérios, as assembléias legislativas, os governos estaduais, as câmaras e as prefeituras municipais estão todos abarrotados de “políticos” cujo interesse, único e exclusivo, é se locupletarem ciclicamente, enchendo os bolsos com polpudas quantias à margem da legalidade? 

O que fazer quando as poucas vozes dissonantes do modus operandi supracitado são sistematicamente negadas, silenciadas ou tratadas, por este mesmo aparato político-institucional, como insignificantes, irrelevantes?

O jogo da troca de favores, das locupletações, das conversas ao pé da orelha, dos tapinhas nas costas, dos favorecimentos escusos, das decisões tomadas às sombras, ou seja, da corrupção em seu mais avançado grau de metástase, é solenemente ignorado, empurrado cirurgicamente para debaixo do tapete.  Quando a tramóia vem à tona, é enfaticamente negada por senhores engravatados e de paletó, do alto de suas posições hipócritas de baluartes da ética, da moral e da probidade administrativa. Nos primeiros dias após o surgimento dos escândalos, a sociedade mostra-se indignada. Depois, muito pouco depois, cansa, esquece, vai atrás de algo que a distraia. Vai ver novela, assistir ao futebol ou ao BBB. Abaixada a poeira, tudo volta à normalidade da roubalheira.

Constatação óbvia ululante: a sociedade brasileira acostumou-se com as coisas como elas são; dá de ombros à desenfreada corrupção que toma de assalto todos nós. “Quero nem saber de política”; “de política eu quero é distância”; “político é tudo ladrão”; “não interferindo na minha vida, pode roubar o quanto quiser”, entre outros, são aforismos recorrentes em qualquer lugar do Brasil. Pessoas que vomitam estas frases não se dão conta que essa ojeriza à política só contribui para que cada vez mais os políticos da “obsessão do próprio umbigo” - pois só olham para eles – se grudem feito ventosas às estruturas dominantes do poder e não mais larguem o osso.

A essa altura da realidade social e política que teima em me desiludir, nem sei mais se uma reforma política - que contemplasse o fim do voto obrigatório, o exclusivo e igualitário financiamento público para campanhas políticas, a distribuição equânime de tempo de propaganda política obrigatória no rádio e na tevê e a validade do voto nulo – seria suficiente para uma mudança paradigmática, que é necessária. O sistema político – e suas representações simbólica e real - e a sociedade – do espetáculo, do consumo, da abundância - estão tão irremediavelmente viciados e imiscuídos ao modo de produção hegemônico que até mesmo uma reforma política dentro desse sistema político ganha ares de “pontual reparo na engrenagem do sistema”, que precisa continuar funcionando a todo vapor.

O sentimento que paira insistentemente no ar, mas poucos vêem, é o de que está tudo errado, às avessas. Consertar, arremedar a estrutura dominante não é a solução. A solução é destruí-la, pô-la abaixo. O verdadeiro e profundo movimento emancipatório da sociedade não surgirá do Congresso nem do Executivo Nacional tampouco dos ministérios, das assembléias legislativas, dos governos estaduais, das câmaras e das prefeituras municipais. Estas instâncias estão todas carcomidas, escravas de uma ideologia conservadora ou, quando muito, reformista, de avanços mínimos e pontuais. Avança daqui, retrocede dali. Essa é a lógica viciada e viciante.

À consciência emancipatória é necessário difundir-se, grassar louca e desmedidamente, espalhar-se aleatoriamente por todas as searas e instâncias sociais. Para isso, deve contar com organizações sociais e de trabalhadores que estejam dispostos a levar a mensagem revolucionária – não falo aqui de sindicatos pelegos tampouco de entidades sem fins lucrativos dotadas de fisiologismo -, além de uma imprensa pró-ativa, combatente e alternativa à grande mídia (uma vez que esta sustenta e difunde todo esse modelo simbólico de dominação e controle), que exerça papel crucial, em médio prazo, na libertação da sociedade em relação à lógica mercantil, do círculo vicioso e exaustivamente repetitivo: exploração do trabalhador (mais-valia), produção de mercadorias, consumo de mercadorias.

O movimento de emancipação real, revolucionário em sua própria essência, surgirá das ruas, do povo, das consciências. Das consciências.

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