Enquanto o financiamento público não for adotado como única alternativa
para doações de campanhas, a situação retratada acima vai teimar em existir não só no mundo dos quadrinhos (Charge:
Ricardo Coimbra)
Por Artur Pires
Parafraseando Hamlet, famoso personagem
shakespeariano, diria que há algo de podre na política brasileira. E como fede!
Os homens de Brasília evitam pôr o dedo na podridão com medo do odor altamente
desagradável subir às narinas nacionais, pois, sabido que é, até os desprovidos
dos recursos olfativos seriam contaminados pela verdade fétida: a estrutura que
sustenta o sistema político brasileiro é uma merda!
O nariz de cera acima é tão somente
para contextualizar uma necessidade urgente no Brasil: a reforma política. Sim,
uma reforma que extirpe definitivamente as anomalias existentes na política
brasileira – que são muitas! Nem FHC tampouco Lula tiveram coragem para fazê-la.
Dilma já caminha para o fim do seu segundo ano à frente do Palácio do Planalto
e o assunto nem sequer foi posto em pauta pela presidenta.
Em suma, o sistema político-partidário
brasileiro hoje caminha numa direção perigosa e sem volta, caso nada seja feito
no sentido de impedir o avanço desse modelo. Os cargos políticos, que deveriam
ser representativos do e para o povo, tornam-se cada vez mais meios de ganhar
dinheiro fácil e perpetuar-se no poder, elegendo cônjuges, filhos, primos, tios,
o periquito e o papagaio. Política, infelizmente, virou sinônimo de negócio
para a maioria dos políticos e de corrupção para a maioria dos eleitores.
Aqueles que detêm a máquina de governo
em suas mãos, seja municipal, estadual ou federal, fazem de tudo para manterem
seus reinados, lançando mão, muitas vezes, de métodos escusos para tal fim. Mas
por quê? Ora, porque o poder embriaga, já dizia Maquiavel no século XVI. Os
fins justificam os meios? Penso que não. Na verdade, os meios que utilizamos
para alcançar o fim é que dizem o que somos. Enfim, deixando a filosofia de
botequim de lado, o fato é que em períodos eleitorais – e muitas vezes fora
deles também - quem está no comando esquece-se de governar e usa de todas as
vantagens que o poder propicia para se reeleger ou, quando não é mais possível
a reeleição, eleger alguém de sua confiança e, assim, continuar mamando nas
tetas da administração pública, feito bezerro esfomeado.
(Charge: Roko)
A questão central é que o sistema
político, da forma como está posto hoje, privilegia o dinheiro em detrimento da
real política, ou seja, de nada adianta ter idéias e propostas inovadoras,
inteligentes, coletivas, agregadoras, pois, no frigir dos ovos, o que vale
mesmo é a bufunfa; quem tem mais grana, leva. Infelizmente, é assim que é! Campanhas
milionárias quase sempre se saem vitoriosas. Só que não era para ser dessa
forma. A política não é isso, não pode ser reduzida a esta ótica do “quanto
mais dinheiro, mais chances de ganhar”. Política
se faz com sonhos e ideais, não com interesses obscuros e Reai$.
Dentro desse contexto, uma aberração do
nosso sistema político é o financiamento privado das campanhas. Empresas fazem
doações generosas de milhões de reais a candidatos que, obscuramente, escondem
a identidade dos doadores. Em troca de quê? Ora, ora, de vantagens e
facilidades em licitações e contratos público-privados em um futuro próximo,
caso seus candidatos sejam eleitos. É a velha máxima: uma mão lava a outra. Trocando
em miúdos, empresas capitalistas não fazem doação, realizam investimento. Alguém
duvida?
Nesse sentido, de todas as mudanças
necessárias que deveriam vir no bojo de uma reforma política consistente e transformadora, o fim do financiamento privado das campanhas tem de ser prioridade.
Este modelo de financiamento explica, em boa parte, a relação promíscua entre
políticos e empresários corruptores que, consequentemente, resulta na onda de
corrupção que assola as esferas dos poderes legislativo, judiciário e executivo
brasileiros.
No entanto, a arrecadação privada para campanhas conta com um lobby poderoso em Brasília, pronto para defendê-la a qualquer momento, pois estes lobistas sabem que a implantação do financiamento público e equânime a todos como única forma de arrecadação de campanhas políticas esvaziaria grande parte do poder econômico e de influência dessas empresas doadoras e, principalmente, aumentaria consideravelmente as chances de vitória de candidatos não alinhados ao status quo.
No entanto, a arrecadação privada para campanhas conta com um lobby poderoso em Brasília, pronto para defendê-la a qualquer momento, pois estes lobistas sabem que a implantação do financiamento público e equânime a todos como única forma de arrecadação de campanhas políticas esvaziaria grande parte do poder econômico e de influência dessas empresas doadoras e, principalmente, aumentaria consideravelmente as chances de vitória de candidatos não alinhados ao status quo.
Hamlet, se saísse da sua Dinamarca e
viesse passear por estas bandas, diria que há algo de podre na estrutura política
brasileira. Pois é. Recomenda-se tapar o nariz para evitar o pior.
Gostei do texto - amazing!
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