(Charge: Junião)
**Artur Pires
Improbidade administrativa, “caixa-dois”, desvio
de recursos do contribuinte, superfaturamento em obras públicas, licitações
fraudulentas, contratos públicos com empresas fantasmas, uso de “laranjas” para
interesses diversos, pagamento de propinas, aparelhamento e arrendamento de
estatais e ministérios por partidos políticos, “dólares em cuecas”, notas
fiscais “frias”, fraudes em operações de crédito realizadas por instituições
públicas, “mensalão”, “privataria tucana”, CPI do Cachoeira... ufa! Quase que
diariamente as páginas das editorias de política e economia dos veículos
jornalísticos em todo o país são dominadas e os leitores bombardeados por
notícias que englobam o amplo repertório de corrupção que se alastra rapidamente
pelas mais diversas esferas do poder público brasileiro, seja este municipal,
estadual ou federal, tal como um vírus perigoso, mortal e em avançado estado de
metástase.
A corrupção alcançou níveis mais do que
alarmantes e estarrecedores; chegou, por assim dizer, a uma vertente
profissional. Suas ramificações e tentáculos de fazer inveja a qualquer polvo
que se preze tomaram de assalto o Estado brasileiro, disseminando-se, sorrateiramente,
pela quase totalidade das suas instituições e repartições públicas, grassando,
a passos largos, pelas searas legislativas, judiciárias e executivas brasileiras.
Os escândalos jorram em grande volume e proporção; as negociatas e corruptelas
“embaixo dos panos” ditam as regras nas relações entre aqueles que detêm o
poder nas mãos – leia-se o “osso na boca”.
Na mesma toada e por consequência diretamente
proporcional, o nobre exercício da ética, principalmente na política, vem
esvaindo-se ao longo do tempo, com uma notável aceleração de sua decadência nos
últimos anos. Hoje, diante do contexto anunciado, pode-se concluir que são
poucas e louváveis exceções os parlamentares e autoridades públicas que levam a
cabo, em toda a sua plenitude - que é a única forma de seu exercício -, a
prática desse conceito tão importante e caro para o desenvolvimento do homem
enquanto ser que vive em sociedade e coletivamente. Pelo contrário, a regra,
que deveria ser a exceção, baseia-se no jogo escuso de troca de favores entre
os homens do poder, que se importam tão somente com o próprio umbigo –
entenda-se conta bancária. Reitero: com raras e bravas exceções!
Com todo esse quadro de corrupção pintado, os
que mais sofrem com esse cipoal de corrupção são os honestos trabalhadores
brasileiros, a esmagadora maioria do povo. Porque uma coisa é certa: quando se
toma de assalto o contribuinte, quando se superfatura obras públicas, quando se
frauda licitações, quando se opera o “caixa-dois”, quando milhares de dólares
inexplicáveis vão parar na cueca de um assessor parlamentar, quando centenas de
milhões de reais oriundos de privatizações criminosas, misteriosamente, vão
parar em paraísos fiscais d´além mar, está se tomando o meu, o seu, o dinheiro
de todos nós.
A usurpação das nossas contribuições aos erários
municipais, estaduais e federal abre uma lacuna incalculável, uma vez que estes
tributos pagos por nós poderiam estar sendo investidos na educação (10% do PIB
para a Educação já!), na saúde, na habitação, no saneamento básico, no
transporte público, nas obras de infraestrutura e mobilidade urbana, enfim, na
reparação dos gargalos históricos - principalmente para as camadas
economicamente mais vulneráveis da população - que impedem o Brasil de ser um
país mais justo, menos desigual, com as mesmas oportunidades para todos.
(Charge: Tc.)
O poder que emana do povo
No entanto, todo esse lamaçal de corrupção, principalmente no meio parlamentar, não pode macular a crença na política enquanto ferramenta com poder de transformar realidades, mudar paradigmas, subverter valores. É isso o que os corruptos querem: nossa descrença na arte da política, nossa alienação; desejam, na verdade, que os deixemos em paz, livres e desimpedidos para, sozinhos, se lambuzarem no seu mar de lama e levarem adiante seus planos de poder, riqueza e status!
O poder que emana do povo
No entanto, todo esse lamaçal de corrupção, principalmente no meio parlamentar, não pode macular a crença na política enquanto ferramenta com poder de transformar realidades, mudar paradigmas, subverter valores. É isso o que os corruptos querem: nossa descrença na arte da política, nossa alienação; desejam, na verdade, que os deixemos em paz, livres e desimpedidos para, sozinhos, se lambuzarem no seu mar de lama e levarem adiante seus planos de poder, riqueza e status!
É justamente por isso que precisamos, ainda e
cada vez mais, demarcarmos nossos espaços de luta e resistência, sejam eles
movimentos organizados de bairros, sociais, sindicais não pelegos, ONGs e os
pouquíssimos partidos políticos que ainda militam verdadeiramente por valores
éticos e coletivos. Se não ocuparmos os espaços políticos, outros, com
interesses inversamente contrários aos nossos, os ocuparão. A luta é espinhosa,
árdua. Mas quem disse que seria fácil? Nunca foi fácil! Quando o povo
organizar-se e tomar consciência de seu poder de mobilização, a hegemonia,
enfim, mudará de lado. A propósito, as eleições estão chegando. Pensemos nisso!
* Artigo publicado no Observatório da Imprensa
* Artigo publicado no Observatório da Imprensa
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